A fim de evitar que imunizantes fiquem estocados por falta de público prioritário ou com comorbidades para consumi-los, como vem acontecendo em vários lugares do país, Ministério da Saúde permite que fármacos sejam aplicados em faixas decrescentes de idade
Para avançar na imunização e tentar conter uma terceira onda, o Ministério da Saúde aprovou, ontem, uma mudança na orientação de vacinação contra a covid-19 que permite que municípios com pouca ou nenhuma procura de doses pelos grupos com maior vulnerabilidade comecem a distribuí-las por faixa etária, em ordem decrescente de idade. Essas cidades, no entanto, têm de garantir um percentual para a continuidade do atendimento às demais prioridades incluídas no Programa Nacional de Imunização (PNI). O pedido veio de estados e municípios, que querem acelerar o processo de imunização.
A princípio, a orientação dada na reunião foi de que, após concluir a vacinação dos grupos de pessoas com comorbidades, com deficiência permanente, funcionários do sistema prisional, população privada de liberdade e trabalhadores da educação, os municípios podem iniciar a vacinação por ordem decrescente de idade — em paralelo ao restante das últimas prioridades, que incluem trabalhadores do transporte coletivo, caminhoneiros, industriários e funcionários da limpeza urbana. O Ministério da Saúde editará uma nota técnica com mais detalhes para orientar os estados e municípios.
A decisão, aprovada durante a 5ª reunião ordinária da Comissão Intergestores Tripartite (CIT), veio de uma demanda exposta pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), pelo Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) e pela Frente Nacional de Prefeitos (FNP). “Essa sugestão foi no sentido de ter um descompasso, dada a heterogeneidade dos estados e municípios. Alguns municípios não têm pessoas de rua e, às vezes, não têm também pessoas privadas de liberdade”, explicou o vice-presidente do Conass e secretário de Saúde de Goiás, Ismael Alexandrino.
Estocagem
Por causa disso, os secretários de saúde observam que há cidades que têm deixado doses estocadas devido à baixa demanda de alguns grupos. “Fico desesperado quando escuto o secretário municipal me ligar e dizer que não tem mais grupo de comorbidade e de pessoas com mais de 60 anos. E diz que está com a vacina estocada, enquanto espera abrir outro público. Isso tem acontecido no Brasil inteiro”, afirmou o secretário de saúde do Maranhão e presidente do Conass, Carlos Lula.
A coordenadora do Programa Nacional de Imunização (PNI), Francieli Fantinato, concordou com os secretários e reforçou que o país não pode estocar imunizantes. “Acho que não dá para deixar a vacina estocada enquanto a gente precisa imunizar toda a população”, disse. Como toda a população com mais de 60 anos foi vacinada contra a covid-19 nos meses anteriores, pessoas a partir de 59 anos devem começar a receber a dose em algumas cidades.
“De 59 a 50 anos, também vem se verificando um aumento da mortalidade. Então, quanto mais velho, maior é o risco de complicação e de óbito”, justificou Francieli.
O secretário-executivo do Ministério da Saúde, Rodrigo Cruz, ressaltou que o objetivo do PNI é a redução de óbitos e do colapso da estrutura hospitalar. “Todas as profissões têm o seu mérito, o seu pleito. Mas, de fato, a gente precisa construir o PNI sobre uma lógica de imunização geral”, disse.
Por | Maria Eduarda Cardim, Correio Braziliense